O Apóstolo como artefacto da reaçom. Dilúvia sobre molhado.
Nom é complicado verificar como a religiom católica continua a ser um eficaz ariete da reaçom local contra todo o que levante a cabeça. E si, sabemos que nom é nada particular que a cúria tenha muito claro o seu bando; é umha simbiose milenar. O caso é que na velha Compostela ésta sanguenta colaboraçom cobrou umha específica intensidade que durante toda a história aplacou qualquer aspiraçom de progreso.
Neste eterno retorno ha sobresaltos que podem servir para sorprender-nos momentaneamente ou para percatar-nos de que o cerco à liberdade de expressom e às mais modestas liberdades democráticas é cada vez mais estreito e devem de umha sucessom de acontecimentos enlazados. Nom som manifestaçons pontuais da luita eleitoral municipal onde a parte azul dos esquemáticos resultados tenta agredir à parte vermelha empregando o rebanho crente. Nom é isso, ojalá fosse isso, mas o que esta sofrendo o amigo Carlos forma parte e é resultado de um caminho regresivo que ha tempo vai devagarinho reducindo o redil por onde o contrapoder transita. A Gentalha leva 15 anos bregando nesta cidade e esse percurso permite-nos observar de longe o constante recorte da auto-denominada democracia.
Já no 2006 o governo municipal aplicou umha verdadeira campanha silenciadora da nossa festa do 17: arrancarom faixas e cartazes, prohibirom praças, cortarom a luz e multarom activistas por colar cartazes amparados nessas eufemísticas leis de “madiambiente” urbano. Tais ferramentas represivas ainda vigentes de luva branca e apariência ecológica servem, por ejemplo, para multar ao irmao centro social corunhes Gomes Gaioso com 400€ neste mesmo ano.
Em 2011 a Gentalha do Pichel foi sancionada pola cámara municipal com umha multa de 1500€ por colocar um cartaz na cacharela de sam Joám que dizia “Na Galiza só em galego” em base a umha normativa aínda vigente que obriga a comunicar o contido das mensagens que coloques nas cacharelas.
Em 2012, companheiras da comissom de língua forom sancionadas pola Guardia Civil com 3.000€ (sí, tresmil euros) por mudar um N por um M num sinal indicador.
E assim fomos chegando a um entruido de 2018 onde nem o carnaval pode fazer escárnio do poder. Isto nom sai da nada, figerom falta muitos desalojos de lugares ocupados, muita violência contra as companheiras do Escárnio, muitos julgamentos contra quem tencionava reactivar a Sala Yago, muitas normativas represivas, muitas multas administrativas em situaçom de indefensom, muitas identificaçons a companheiras que portavam um rolo de fita e uns cartazes de papel. As faculdades cada vez mais inócuas, as praças cada vez mais repletas de terraças, as ruas cada vez mais inóspitas e o pior de todo: umha parte de nós, umha parte do sentir colectivo dos movimentos populares foi interiorizando que isto é assim e que vai ir a pior. Vamos, pedra a pedra, aprendendo e até justificando ésta atroz travesia até as redes sociais; verdadeiros vertedoiros da nossa rebeldia. E nem isso, por que é ahi, nesse mundo virtual que eles mesmo criarom, onde a liberdade de expressom é mais controlável.
É por todo isto que na Gentalha nom podemos calar; porque sabemos o que se sinte, porque Carlos foi um amigo do nosso colectivo desde o princípio, desde aquela Burla Negra (em que Carlos Santiago participou) que ocupou nos princípios do nosso centro social um local no primeiro andar. Nom podemos calar porque o próprio personagem do apóstolo veu blasfemar no nosso décimo aniversário e rimos com ele.
Na Gentalha todas somos Carlos porque todas fomos Carlos Santiago durante muito tempo.