A Gentalha do Pichel é um projeto cultural ao serviço dos interesses do povo galego que, durante mais de quinze anos conseguiu manter em ativo diversas comissons de trabalho dirigidas a construir um país no que a preservaçom da língua, das tradiçons, do património histórico, do meio natural… se complementem coa necessária contextualizaçom e adaptaçom às novas necessidades, evitando assim cair numha conceçom monolítica e anacrónica da cultura.
Guiadas polo compromisso com umha cultura popular, rica e que sirva para construir e socializar o conhecimento, a Gentalha tem refletido sobre a vulnerabilidade da sociedade ante perigosos fenómenos como o auge das pseudociências que aproveitam a escassa alfabetizaçom científica para vender produtos e práticas terapêuticas fraudulentas. Olhamos com preocupaçom, como as autodenominadas “terapias alternativas” que questionavam o método científico conduzírom da “inofensiva” adscriçom individual a posturas com consequências sociais muito mais graves como o som a negativa à vacinaçom.
Mas esta é só a ponta do iceberg. Sob as consequências sanitárias mais evidentes, subjaze umha crise ideológica com implicaçons políticas, educativas, económicas e filosóficas mais que evidentes. Por enquanto, boa parte da esquerda permanece desarmada ideologicamente, ancorada numha foto fixa e parcial da realidade que cada vez se empenha em fragmentar mais quando nom abraçada diretamente à mística e religiosidade New Age para dar explicaçom à sua incapacidade política.
Entre as causas do auge destas novas conceçons anticientíficas identificamos vários factores:
De umha banda, as novas terapias “alternativas”, agriculturas sustentadas em crenças, psicologias “divergentes”, conspiraçons científicas de todo tipo e vendedores de produtos milagreiros som convenientemente críticas com o “status quo” das suas respectivas áreas, embora estejam igualmente assentadas no mercado.
Além disso, a assunçom deste discurso anticientífico por parte da populaçom, e em especial por algum ativismo de esquerda, é a dependência de grande parte da investigaçom científica de fundos privados, com interesses a miúdo contrapostos aos da maioria social. Um exemplo é o do intrusismo empresarial nas Universidades que em nom poucas ocasions impede dirigir as investigaçons em sentido contrário do lucro.
Temos também umha divulgaçom científica escassa e frequentemente altiva, masculinizada e arrogante que nom fai mais que acrescentar a fratura entre o saber científico e o nom saber.
Para complicar a equaçom, nom sobra descrever a muitas das pessoas que conformam o autodenominado movimento “céptico” como alinhadas com o mais cru neoliberalismo impedindo a implementaçom de saudáveis atitudes de análise científica no ámbito dos movimentos sociais.
E aqui estamos nós, padecendo a gravidade destes dous mundos falsamente contraditórios mas igualmente afetados polo maior e mais agressivo dos inimigos do conhecimento científico: o mercado.
Mas nom todo está dito. Acreditamos em que a cultura científica nom pode ser um privilégio de umha minoria social, mas um bem comunitário a proteger e desenvolver. Negando-nos esta formaçom fam-nos mais débeis e dependentes. A maneira de conhecer ligada à ciência implica questionar permanentemente as nossas hipóteses e estar dispostas a rejeitá-las quando se demonstrarem erradas. Mas também questionar aquelas que se erigem como a verdade absoluta e se declaram isentas de serem analisadas pola razom e a experiência. A cultura científica é o contrário do dogmatismo, umha ferramenta para avançar da que nom nos queremos desprender.
Por todo isto, a Gentalha do Pichel reunida em assembleia geral, decidiu dar um passo mais na construçom da cultura popular, incorporando a divulgaçom da ciência ao nosso trabalho mediante a criaçom da Comissom de Cultura científica.
Sabemos que é um enorme repto, que o trabalho divulgativo requirirá de tomar postura em debates fortemente polarizados implicando riscos, mas também acreditamos em que esta nova andaina enriquecerá o nosso projeto cultural e contribuirá a fazermos ciência polo povo e para o povo.
Contamos contigo?